Blues

domingo no alfa depois do show da etnohaus conversávamos eu, iuri e rafael e nunca me veio tão clara a ideia — embora já a tivesse elaborado, mas dessa vez ela pulou evidente — de que a questão do novo na arte ou na canção pra mim sempre esteve associada à singularidade do artista, ao seu estilo pessoal ou como se costuma dizer a sua assinatura etc., ainda que esse seja um entendimento conceitualmente errado; e aí lembrei de uma conversa que tive mais jovenzinho com eucanaã quando ele me ensinou que o novo tinha relação com a inovação formal das vanguardas históricas e tal e isso foi uma surpresa pra mim; mas no bar enquanto eles faziam suas críticas a minha apresentação e eu concordasse com elas, rebati numa que a tradição da música brasileira, tenho pensado, nos cobra que as canções sejam diferentes umas das outras, quando não vejo isso no blues, na obra de bob dylan, de luis capucho, que soa toda muito igual e me passa a ótima impressão de unidade, de uma única canção contínua, como a canção de uma vida, que toma e retoma temas obsessivos, melodias, dicções, e pensei também no walt whitman que passou toda a vida (re)escrevendo um único livro, e como eu gosto dessa ideia e desses artistas, meus preferidos; por isso, é muito interessante pensar que no blues, com seu esquema harmônico e formal limitadíssimo, é justamente aí que saltam plenamente em suas singularidades os maiores guitarristas e cantores da música popular, de um jeito que quase não se pode dissociar a vida e a música dessas pessoas e esse meu novo reaprendido é o que me interessa e o que sempre me interessou, porque, para muito além dos fetiches formais e da discussão conceitual sucks da arte, só uma existência voraz pode ser realmente nova, inclusive formalmente.