Texto de apresentação da turnê do álbum “Amarelo”, escrito pelo crítico e também diretor artístico do show Marcos Lacerda.
Bruno Cosentino apresenta as canções de seu primeiro disco solo, “Amarelo”, ao lado de canções de outros autores. O disco e o show têm como tema central as movimentações ásperas e suaves, densas e supérfluas do encontro com a beleza que se expressa tanto na transcendência do rosto de alguém cuja aparição súbita nos causa um misto de alumbramento e angústia, quanto na feição terra-a-terra, aveludada, do mundo sublunar da carne, da pele, do atrito dos corpos que se encontram e se entendem na imanência frugal e fugaz do enlace criador, vital e enigmático do sexo. Os afetos se misturam às cores, palavras e paisagens da cidade; são como extensões do próprio corpo que atravessam pessoas, ruas, mares, praias, pontes, viadutos, cafés, sonhos e sons. Mas o contato com a beleza não é feito de amenidades: “Aquele que viu a beleza de frente já foi confiado à morte”; do mesmo modo que o ato de escrever e fazer canções nunca é um ato gratuito, que não possa ferir o sentido das coisas e das relações com um outro que nunca se dá como plenitude porque é ausência na presença esquiva e insinuante de si: “o erotismo é a aprovação da vida até na morte”.