Um disco sexual, em letra e som – por Leonardo Lichote

Matéria sobre o lançamento do disco “Babies”, escrita pelo jornalista Leonardo Lichote para o jornal O Globo, seguida de breve texto crítico de Silvio Essinger. 

Eu tenho muito a dizer sobre a crítica do Essinger, porque as críticas boas me fazem pensar. E faço agora por conta do show deste sábado e porque se não fosse isso não estava por aqui no facebook, que sucks. Apesar do tempo escasso que dispõem para a escrita e do clichê da manchete jornalística, encontro no texto alguma sensibilidade e percepção muito justas sobre uns aspectos. Acredito que ele está muito certo quando diz que sou um artista do meu tempo (pro bem e pro mal, digo eu), de múltiplas referências musicais e poéticas, inquieto e que dialogo com meus pares de geração e com os gigantes que me antecederam. Acho que é isso mesmo, só não estou em busca de identidade própria, já tive esse desejo juvenil, que recusei tão logo percebi que havia chegado a algo próximo do que poderia chamar de meu e, pra falar a verdade, meu trabalho maior é recusá-lo todos os dias, minha inquietude vem daí, inclusive. Outra coisa e aí pra mim ele acerta em cheio é quando diz que uso todas as minhas possibilidades e fragilidades. O disco foi todo a exposição deliberada das minhas fragilidades, o que fez com que me sentisse vulnerável, não sabendo muito bem o que estava fazendo. Aprendi faz poucos anos que uma das vantagens de ser artista é poder ter muitas vidas, porque eu posso fazer o que quiser e se não der certo, ficar ruim, morri, mas posso fazer de novo e de novo, quantas vezes quiser e morrer mais e assim vou vivendo na plenitude — eu com minha música — e por um fio. Mas que fique claro que essa fragilidade de que falo é força e coragem, que nasce da dúvida de tudo, o oposto daquela confiança pessoal inabalável estimulada pela cultura corporativa e norte americana, que faz dos supostos “vencedores” ovelhinhas perdidas e dóceis no rebanho da ideologia dominante. Aí, discordo quando escreve que o som é deliberadamente setentista — nem pensamos nisso e tampouco acho que seja —, quando faz uso daquele velho e cafona cacoete jornalístico do veredicto, “o disco é isso, é aquilo, é melhor, é pior”, e outro ainda mais sem sentido, o de vaticinador, crítico vidente que prevê o valor que o disco terá no futuro. Mas o ponto fraco mesmo pra mim é quando fala de uma “busca estética antiga: a de alargamento dos limites da canção nas liberdades e coloquialidades que a poesia oferece.” Além de confuso, porque se alguma linguagem oferece coloquialidade e liberdade, muito mais do que a poesia, é a canção; então, porque os limites da canção estariam sendo alargados pelo da poesia? Também não consigo entender porque essa seria uma busca estética antiga, pois para mim essa é a eterna busca estética, não exatamente a de alargamento dos limites (terá querido dizer “formais”?) da canção como um fetiche vanguardista, mas da liberdade artística que está sempre revendo e questionando sua produção e tentando alargar sentidos e sensações — essa busca não pode ser chamada de antiga, ela é a condição em todos os tempos da produção artística.