Dois

depois de fazer as canções do A M A R E L O, percebi que elas estavam repletas de interrogações referentes à possibilidade de duas pessoas viverem juntas uma vida em comum. essa grande dúvida, eu sabia, era resultado, por paradoxal que possa parecer, de uma certeza íntima, no meu caso, de que isso era possível. mas racionalmente sempre achei essa possibilidade uma utopia. e daí a importância da dúvida sempre a reforçar minha certeza. pois nunca pude suportar a impostura do “casal feliz”; acho que todo casamento brilha na alta tensão entre duas existências, entre a dor e a delícia. e digo isso porque li recentemente em algum lugar que a palavra “dois”, em alemão, deriva etimologicamente da palavra “dúvida”. meu amigo antonio cicero, que é um erudito, me confirmou e ainda disse que “não é preciso ir tão longe; em português, a palavra ‘dúvida’ vem da latina ‘dubium’, de onde também vem ‘dúbio’. ora, ‘dubium’ deriva de ‘duo’, que quer dizer ‘dois’”. “dois” é o nome da última canção do A M A R E L O, ela toda uma grande interrogação, com medos, fragilidades, esperança e fé no mistério. fiquei feliz com essa descoberta, porque esse tipo de coisa às vezes acontece para reafirmar o que antes era somente intuição; “dois” sempre foi igual a “dúvida” pra mim, agora eu sei. inclusive o nome do meu disco deveria se chamar assim, “dois”, seria um nome lindo.